Rachid Camargo, nascido em Campinas-SP, tem 25 anos, é multi-instrumentista, e está lançando o primeiro CD da carreira, sob os cuidados da Warner Music.
Para quem é fã de sertanejo, há uma notícia especial: o projeto sairá pelo selo “Chantecler”, que está sendo reativado. Criada da década de 1960, a Chantecler era uma gravadora que visava artistas populares, dando imenso espaço a duplas sertanejas, que sempre tiveram dificuldade em conseguir apoio.
Quando surge um novo artista sertanejo, ainda mais sendo jovem, é difícil fugir da ideia de que “lá vem mais um garoto cantar sobre bebedeira, farra e noitada”.
Rachid trata de desmontar essa impressão com seu disco de estreia.
O primeiro choque ao ouvir “Irônico” se dá ao perceber que ele é inteiramente de estúdio, sem som de público ao fundo, sem som ambiente, sem ruídos. Limpos, os arranjos trabalham para que o foco fique sobre a interpretação do cantor.
O mercado sertanejo se acostumou tanto aos discos ao vivo nos últimos 10 anos, que um projeto de estúdio, tão comum ao gênero até o início dos anos 2000, soa como “ousadia”.
Outra surpresa é o estilo das canções. O romantismo é fio condutor do trabalho, e a inclinação pop está presente a todo momento, em todas as faixas.
A canção que abre o disco, “Prova de Fogo”, que mescla violinos com guitarras, consegue resumir bastante o ecletismo e as experiências ao longo de todas as faixas. Das onze músicas do projeto, duas são de autoria do próprio Rachid, duas declarações de amor: “O que faltava e mim” e “Carnaval”, que nada tem a ver com o evento festivo.
Em “Erro Maior”, Rachid canta a história de um amor não correspondido, uma das canções que mais se destaca no disco. O lamento pela falta de amor também é assunto de outra canção, “Pássaro sem asa”, a de letra mais triste do disco.
O repertório traz também “Pecado de Amor”, que apesar de sua melodia apaixonada, narra um belo de um “fora” dado com palavras românticas. Já gravada por outros sertanejos (a canção chegou a dar nome a um disco de Eduardo Costa, por exemplo), ela é a que mais se aproxima do “sofrimento” do sertanejo romântico.
Vale reparar também na regravação de “Mar de Rosas”, grande sucesso dos Fevers na década de 1970, mas agora gravada de maneira mais lenta e intimista, e na faixa “Em tuas mãos”, versão de “Colgando en tus manos”, um sucesso do venezuelano Carlos Baute.
O projeto, previsto para sair em maio, teve produção a altura de um mega artista. As guitarras foram gravadas por Rick Ferreira, de grande história nas produções de Rock, principalmente com Raul Seixas, mas que também gravou com outros sertanejos, tais como Chitãozinho e Xororó e Leonardo.
O premiado guitarrista uruguaio Leo Amuedo, parceiro de projetos de Ivan Lins, assina as guitarras em “Pecado de Amor”. Ainda sobre a renomada banda, as baterias foram feitas por Sergio Mello, que acompanha Lulu Santos, e o baixo por André Vasconcelos, que trabalhou com diversos artistas, e que assina projetos do Djavan.
Encerrando os nomes de peso na produção do disco, há os belos arranjos de “Irônico”, feitos pelo consagrado Arthur Verocai.
Rachid, sertanejo desde a infância, começou a ter contato com instrumentos aos 8 anos. Ainda adolescente, ele já se apresentava na noite de Campinas. Sozinho ou com banda, ele era o principal nome da noite na cidade.
Como também sou de Campinas, lembro-me das apresentações dele por volta de 2004/2005, quando o sertanejo universitário ainda engatinhava, e a música das noites ainda era o pop/rock. Poucos anos depois, com a nova geração de sertanejos aparecendo, Rachid conseguiu focar seu trabalho, enfim, na música sertaneja.
Em 2012, o cantor virou assunto no meio sertanejo ao gravar, ao lado de Tinoco, uma composição feita pelos dois, chamada “Que beleza”, canção que Rachid transformou em uma turnê chamada “Encontro de Gerações”.
Parte de um mercado em renovação constante, Rachid foi o único sertanejo apontado pelo Spotify, um dos principais serviços de música por streaming do mundo, entre as apostas para 2015. Com foco na qualidade musical e sem se render a tentação das músicas fáceis, o cantor é, de fato, uma boa promessa para 2015.
Confira a primeira música de trabalho “O Que Faltava Em Mim”
Texto: André Piunti